Por Cláudio da Costa Oliveira – dezembro 2020
No último dia 11, a direção da Petrobrás divulgou um “Comunicação sobre transação com parte relacionada”. Trata-se de um acordo no valor de R$ 148,5 milhões cujo objetivo é “Compra e venda de óleo diesel marítimo (MGO – marine gasoil) sendo a Petrobrás compradora e a BR vendedora”, como informa o artigo abaixo.
Eles informam o fato, mas não explicam o motivo.
Parece-me estranho que a Petrobrás compre óleo marítimo da BR, um óleo que, provavelmente, foi a própria Petrobrás que forneceu.
Lembro que em 21 de outubro desse ano, em outra “Comunicação sobre transação com parte relacionada”, a direção da Petrobrás informou que, por solicitação da BR Distribuidora, estaria sendo feito distrato do contrato de compra e venda de OC-CMB- óleo combustível, no valor aproximado de R$ 4 bilhões. A BR comprava este óleo da Petrobrás para fornecimento a termoelétricas.
Novamente foi informado o fato, sem explicar os motivos.
Me pergunto: a BR não vai mais fornecer o óleo para as termoelétricas e entregar o mercado para os concorrentes? Ou vai passar a comprar de outro fornecedor?
Estranho também o fato de a Petrobras comunicar em outubro um distrato efetivado desde maio.
Estas ocorrências estranhas, a meu ver, na verdade fazem parte do plano de entrega de importantes ativos, construídos ao longo de décadas pelos brasileiros, para o capital estrangeiro.
Em se tratando de Petrobrás e BR Distribuidora, as duas maiores empresas brasileiras (Exame – Maiores e Melhores), o processo lesa-pátria tem de ser gradual de forma que, quando o povo brasileiro se der conta, o fato já estará consumado.
Criada em 1973 durante o governo militar, a BR Distribuidora sempre foi um entrave ao interesse internacional de controlar o mercado brasileiro de combustíveis. Ou seja, voltar à situação existente antes da criação da Petrobrás, cuja subsistência exigiu o suicídio de Vargas.
Ao brasileiro sequer é dado o direito de conhecer sua própria história. A carta testamento de Getúlio foi banida de nossas escolas e praticamente nenhum brasileiro se lembra ou ouviu falar a frase:
“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma……Não querem que o trabalhador seja livre…….Não querem que o povo seja independente. “
As forças nacionalistas brasileiras estão dispersas e não encontram forma de aglutinação.
O ambiente se tornou favorável aos abutres internacionais.
Com agilidade, a banca financeira (Black Rock, Vanguard, J.P.Morgan etc,etc,etc) elegeu a Shell (minha opinião) para suceder a Petrobrás no controle do mercado brasileiro de combustíveis.
Em 2011, em sociedade com a Cosan, maior esmagadora de cana de açúcar do mundo, a Shell criou a Raizen, que hoje figura como quarta maior empresa brasileira (Exame – Maiores e Melhores 2020) e serve para camuflar suas atividades no Brasil.
Em 2016, a Shell comprou a British Gas – BG, maior produtora de petróleo no Brasil na época, fora a Petrobrás.
Hoje a Shell produz mais de 400 mil barris dia de petróleo no Brasil, e importa de suas refinarias no Golfo do México, que mantém em sociedade (50/50) com a saudita Saudi Aranco, mais de 200 mil barris dia de combustíveis.
O processo de venda da refinaria Landulfo Alves (Relan), na Bahia, encontra-se em fase final de negociação com o fundo saudita Mudabala, e a venda da Repar, no Paraná, está em disputa entre o grupo Ultra (dono da Ipiranga) e a Raizen.
A captura da BR Distribuidora está sendo cercada de todos os cuidados, para não alertar a população brasileira.
O primeiro passo foi a abertura do capital da empresa em dezembro de 2017, sobre a qual escrevi artigo (março 2018) com o título “A escandalosa abertura de capital da BR Distribuidora”.
Para tornar o negócio atraente para o mercado, a Petrobrás assumiu R$ 6 bilhões de dívidas da BR, mas só arrecadou R$ 5 bilhões com o IPO.
Em 2019, a Petrobrás vendeu o controle acionário da BR para o mercado, numa operação que surpreendeu até o então Secretário de Privatizações, Salim Matar, que não esperava que tudo fosse feito sem qualquer agitação popular.
Andre Motta Araujo (GGN julho 2019) escreveu artigo com o título “Quem comprou o controle da BR Distribuidora”:
No artigo denuncia “Foi uma simples venda de ações na Bolsa de São Paulo cujo resultado ao fim do dia foi a Petrobrás ‘vender’ o controle da BR Distribuidora, pelo preço de ações no varejo, SEM CONSIDERAR O VALOR DO CONTROLE”.
Sobre quem comprou o controle afirma: “Calma, ele não apareceu porque convém esconder o jogo para não desvendar a ´pechincha´ que foi a compra do controle do mercado de combustíveis no Brasil. Desconfio eu seja a Shell, atrás do “biombo” Raizen, mas não tenho certeza”.
O mais provável é que as recentes transações de compra e venda de combustíveis entre Petrobrás e BR sejam parte da transferência de negócios da Distribuidora para terceiros.
Para compensar os atuais administradores da BR pelas atividades de lesa-pátria, os controladores aumentaram suas remunerações em mais de 270 % como vemos no artigo “Após um ano de privatização diretoria da BR aumenta salário em 272%”.